terça-feira, 30 de novembro de 2010

As milícias da comunicação interna

Antes do texto, uma observação: odeio oportunismos, ‘ganchos’ de momento e tal, mas era inevitável não aliar o tema que prometi na última coluna aos tempos de ‘Tropa de Elite’ que vivemos. A ponte que farei com o filme é de certa forma atemporal, portanto resolvi fazer esta ligação, já que milícias sempre existiram em diversos países. Prometi falar de rádio-peão, mas vou além: vou compartilhar com vocês uma experiência onde uma verdadeira ‘milícia de comunicação interna’ foi criada.

Desde cedo levantei a bandeira do Programa de Integração para novos funcionários. Acho um absurdo que certas empresas não tenham esses programas estruturados. E veio daí o problema. A empresa em que eu trabalhava estava montando esse programa, com muito atraso e burocracia. O novo empregado ficava completamente perdido, tudo isso numa companhia fantástica, sonho de qualquer profissional. Um grande setor dessa empresa era muito afetado por esse problema interno e resolveu agir da pior forma: montou uma espécie de ‘comunicação interna paralela’, exatamente como fazem as milícias. A desculpa era resolver o problema de comunicação, mas criava um maior ainda, como as ‘divisões culturais’ dentro da organização.

Como o RH, responsável pela comunicação interna, descobriu? Uma estagiária foi tirar uma dúvida e mostrou a apostila desse ‘programa de integração paralelo’. Daí vimos que tudo era, de certa forma, organizado. Tinha apresentação nas salas de treinamento, marcadas no RH com outro motivo, detalhamentos sobre a área que criou a ‘milícia’ como se eles fossem o ‘coração’ da empresa e até recomendações para que o RH fosse procurado somente para assuntos específicos, que não tivessem mesmo jeito de resolver naquela área, como problemas com benefícios, essas coisas. Ah, o principal: segredo absoluto sobre essa ‘comunicação interna’. Mas a tal estagiária acabou entregando o jogo sem querer.

A turma que liderava esse esquema, por acaso, foi a mesma que criou um problema muito sério internamente, meses antes, envolvendo rádio-peão. Nessa ocasião, a empresa precisou fazer um trabalho de gestão de crise, tamanho foi o problema. O detalhe é que certa vez convidei dois desses envolvidos para um ‘programa de ideias’. Não participaram, alegando muito trabalho. Ajudar ninguém quer. Para fofoca e criação de programas paralelos, sobra tempo e criatividade. Os ‘radialistas’ corporativos têm esse perfil: não ajudam em nada a empresa a crescer. São insatisfeitos com o trabalho, e em vez de buscar uma solução internamente ou mesmo procurar uma nova oportunidade fora dali, resolvem agir dessa forma doentia.

Tudo isso que estou contando é anterior às redes sociais e outras ferramentas da chamada Web 2.0. Hoje, esses problemas de rádio-peão – ‘web-peão’, quem sabe – ou mesmo a criação de grupos de comunicação interna paralelos podem ser ainda maiores. É preciso investir sério em políticas de comunicação e uso de redes sociais para que o público interno entenda a importância e a responsabilidade ao lidar com informações da empresa. Na próxima coluna, vou tratar de como essas políticas podem ser bem construídas sem criar um ambiente de medo na empresa, mas sim defendendo a comunicação colaborativa e correta. Um abraço.

http://www.nosdacomunicacao.com/panorama_interna_col.asp?panorama=418&tipo=C

Nenhum comentário:

Postar um comentário