segunda-feira, 2 de agosto de 2010

RP e Novas Tecnologias "EUGÊNIA RIGITANO

Graduada em Relações Públicas pela Unifacs, Mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela UFBA. Atualmente ministra as disciplinas relativas à área de hipermídia e Relações Públicas nos cursos de comunicação da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Salvador e também na UNIME.

A Comunicação Organizacional, as Metáforas e o Ciberespaço

Muitas são as discussões sobre o futuro da comunicação organizacional a partir da inserção das tecnologias digitais na sociedade. Termos como ciberespaço, cibercultura, hipertexto e interatividade estão cada vez mais em voga, seja no âmbito político, econômico, cultural, acadêmico, organizacional e, até mesmo, doméstico. No que tange as organizações e suas relações com os diferentes públicos, cabe questionarmos quais as principais conseqüências e mudanças advindas dessa nova realidade social.

Entende-se por ciberespaço, ou espaço cibernético, um novo ambiente de comunicação formado a partir da interconexão mundial dos computadores. Segundo Pierre Lévy, um meio de comunicação e interação social, um "não-lugar". A Internet, bem como a Web, representam a nossa principal porta de entrada para este novo ambiente, a partir do qual temos a possibilidade de agir tanto como emissores quanto como receptores.

Na metade da década de 90, época da popularização da Internet, as organizações passaram a atentar para este novo ambiente. Era o momento do "boom" das empresas.com e tanto estas, como as organizações com representação no mundo "físico", vislumbraram no ciberespaço a possibilidade de ampliar o seu campo de atuação. Via-se como imprescindível ter um site na Internet, fazer-se presente no ciberespaço. Porém, era preciso mais. A mera presença significa um subaproveitamento das potencialidades do meio. Além do quê, não é necessário ser profissional de comunicação para sentir-se frustrado ao receber um cartão de visitas de uma empresa em que conste o endereço na internet e, ao acessá-lo, deparar-se com apenas a logomarca e um telefone de contato.

Do ponto de vista metafórico um site representa uma extensão da organização, ou até mesmo, uma sede da organização no ciberespaço. Partindo-se deste pressuposto, além de disponibilizar as informações essenciais sobre a organização, tais como missão, objetivos, ramo de atuação, resultados, relatórios, etc., um site deve oferecer mecanismos de extensão dos objetivos de comunicação organizacional, que sejam adequados às características do ciberespaço.

É equivocado pensar um site organizacional como mais um instrumento de comunicação, dentre tantos outros. Da mesma forma, é totalmente errôneo aproveitar a capacidade de memória da Rede para transformar um site em um compêndio de todos os instrumentos de comunicação dirigida tradicionais elaborados pela organização, mudando a plataforma mas não oferecendo nada de novo.

Se continuarmos pensando metaforicamente, podemos comparar uma visita a um site ao tão utilizado instrumento de visitação das empresas, o "open day". Se não recorrêssemos a visitas guiadas e abríssemos os portões de uma fábrica para que os parentes dos funcionários fizessem suas visitas da maneira que quisessem, com certeza os mesmos se sentiriam perdidos. Na Internet, isso também pode acontecer. A estrutura hipertextual das informações na Rede abre um leque de possibilidades de navegação para o internauta. Sendo assim, podemos vislumbrar a necessidade de um profissional de comunicação organizacional na própria elaboração do site. Se uma das responsabilidades deste profissional consiste na preparação do roteiro de uma visita guiada às instalações da organização, no ciberespaço ele deve assumir a função de arquiteto da informação, imaginando os roteiros que o internauta pode vir a seguir e conduzindo-o nesse "open day full time".

Uma outra questão a ser pensada diz respeito à própria paridade entre emissor e receptor existente no ciberespaço, o que nos evoca a idéia de interatividade. Se falamos tanto em bidirecionalidade da comunicação organizacional, por que então recorremos a iniciativas unidirecionais? Dentre os recursos mais presentes nos sites organizacionais podemos destacar as enquetes. Será que é possível utilizá-las como um instrumento de diálogo? Ou apenas funcionam como um mecanismo de cadastro para futuros spams disfarçados de simples e-mails? Será que ao disponibilizar um "fale conosco" a organização quer realmente falar conosco? O uso de respostas-padrão aos e-mails recebidos pode construir uma imagem de organização "atenciosa", ou refletir um infeliz exemplo do mau uso dos canais interativos?

Os questionamentos são muitos. Tanto se nos colocamos no papel de profissionais de comunicação, quanto se pensamos como públicos de determinada organização. Mas, se recorrermos novamente às metáforas e refletirmos sobre o ciberespaço como o novo lócus da comunicação organizacional, poderemos perceber que o espaço cibernético oferece inúmeros mecanismos que, se utilizados de maneira adequada, podem favorecer, e muito, o relacionamento entre a organização e seus públicos.


http://www.rp-bahia.com.br/colunistas/rigitano.htm

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