terça-feira, 23 de junho de 2009

Relações públicas, movimentos populares e transformação social


Há aproximadamente uma década vêm se desenvolvendo de forma mais visível, no Brasil, novas possibilidades às relações públicas. Elas transcendem, com mais vigor, dos mundos empresarial e governamental - embora estes continuem seus campos de atuação predominantes, para o mundo das organizações e movimentos sociais populares.

Assim, até há mais ou menos dez anos relações públicas eram concebidas teoricamente e praticadas majoritariamente enquanto um instrumental a serviço do capital, dos governos e da hegemonia das classes dominantes. Mas, a sociedade é dinâmica e, acompanhando as mudanças que vêm ocorrendo no interior da sociedade brasileira, as relações públicas também chegou a vez de deixarem-se mudar. Hoje, teórica e praticamente, é possível falar de relações públicas populares, ou comunitárias, orgânicas às classes subalternas. Ou seja, de um trabalho de relações públicas comprometido com os interesses dos segmentos sociais subalternos organizados, ou num sentido mais amplo com o interesse público.

Falar de relações públicas populares, ou comunitárias, significa falar de "novas" relações públicas. "Novas" no sentido de estarem comprometidas com a realidade concreta e com as necessidades e interesses majoritários da população sofrida, impossibilitada de usufruir dos direitos plenos de cidadania.

Portanto, as relações públicas populares implicam num olhar inconformado do status-quo, e ao mesmo tempo, implicam num "apostar" na transformação social. Ou seja, é um olhar inconformado no sentido de não se conformar, não aceitar a realidade de opressão a que está sujeita a maior parte da população brasileira. Opressão essa que está refletida nas condições de miséria, na carência de moradia digna, na subnutrição de um terço da população brasileira, na falta de saúde, no aumento do número de meninos e meninas de rua e tantas outras coisas que afetam a vida. Um dado que reflete bem essa situação: Segundo pesquisa da ONU - Organização das Nações Unidas, o Brasil ocupa a 51ª posição mundial em termos de desenvolvimento humano (considerando a expectativa de vida, grau de alfabetização e poder de compra básica da população), seguido do Paraguai que está em 52ª posição.

Mas, na dinamicidade da sociedade ela vai criando mecanismos de negação, a antítese à situação de desigualdade social. No decorrer dos anos, vários expoentes (pessoas, movimentos sociais, organizações não governamentais, segmentos da Igreja Católica, segmentos universitários, alguns partidos políticos, alguns órgãos públicos etc.) vão se agregando em tomo de lutas em defesa da vida.

No bojo desse processo é que se forjam os movimentos sociais populares, os quais vão desenvolvendo ações coletivas em favor do interesse público, dos interesses da maior parte da população.

Estes movimentos, em última instância, lutam pelo acesso a bens de consumo coletivo (no campo da educação, da saúde, da moradia etc.), bens necessários à própria vida, aos quais todo cidadão tem direito. Em suma, significa a reivindicação ao direito de participação da população na riqueza socialmente produzida, bem como no direito de participação política.

Aliás, manifestações em defesa da vida vem ganhando amplitude mundial. Por exemplo, a defesa da preservação do meio ambiente, da paz, dos direitos da mulher, dos direitos à individualidade, de participação política etc. São valores antigos, mas que voltam a ser atuais. São valores emergentes e não predominantes nem hegemônicos, mas que convivem e estão ajudando a compor uma nova realidade. No fundo há uma rejeição a tudo que afronta a vida, a dignidade e o bem comum (violência, corrupção, autoritarismo político,. destruição da natureza, degradação das condições de existência e outros).

No Brasil, estes e outros valores também estão presentes. Várias instituições, pessoas, movimentos populares estão inseridos em todo um processo contra as várias formas de negação à vida. Entre essas forças destacamos os movimentos sociais populares por representarem "novas" organizações. Novas não no sentido de não terem existido antes, claro. Movimentos dessa natureza existiram ao longo da história da humanidade.


Mas, novos para aquele momento histórico, ou seja final da década de 70, durante a fase final de um período marcado por mais de duas décadas de um regime militar autoritário que bloqueara qualquer iniciativa crítica e organizativa da sociedade civil, e por outro lado porque aos poucos vão forjando estruturas sociais e valores inovadores. Nascem a partir "dos de baixo", das bases, ou da população empobrecida e se organizam por fora e independente dos canais tradicionais de participação como os sindicatos e os partidos políticos, bem como de outras instituições privadas e públicas. De fato, ocupam um espaço diferente daquele ocupado pelos partidos e sindicatos enquanto canais abertos à canalização dos interesses da sociedade.


fONTE: http://www.bocc.ubi.pt/pag/peruzzo-cicilia-relacoes-publicas.html

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